Você já viu um “transformer”?
Não, não estou falando dos carros do recente filme Transformers. Os “transformers” em questão são veículos usados comprados em outros países (geralmente Japão) e trazidos para a América do Sul.
Quem costuma viajar pelo litoral sul do Brasil ou para o Paraguay já deve ter visto muitos desses “transformers”, em sua maioria veículos de fabricantes japoneses, passando do lado e nem tenha percebido que tal carro é de certa forma transformado.
Toyota Corolla igual ao que já foi fabricado no Brasil. Mas será que é igual mesmo?
- Mas então, como reconhecer um “Transformer”?
- Simples: quem for bem antenado no mundo automotivo irá reconhecer um deles só de ver o modelo do veículo.
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Toyota Caldina GTFour: feito apenas para o mercado asiático, mas que dá as caras aqui como um “transformer”
Não é um cara muito “antenado” no mundo automotivo? Ok, então lhe mostraremos como identificar um transformado:
- Primeiro: um transformer geralmente é um carro japonês, e conta com o suporte da placa menor, bem no tamanho exato das placas paraguayas (é onde os “transformers” são encontrados aos montes). Além disso, os limpadores de pára-brisa são outro indicador de que o carro é modificado. Parece que não muda muita coisa, mas andando na chuva é que a diferença aparece! No caso das vans, a diferença fica pela porta traseira corrediça no lado esquerdo, diferente dos modelos ocidentais, se bem que a maioria vem com duas portas traseiras.
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Repare nos limpadores de pára-brisas: o do primeiro plano indica que o carro é japonês
Toyota Granvia 3.0D, com porta traseira do lado esquerdo apenas.
- Segundo: no interior é onde se vê (ou não) que tal carro é convertido: se o carro tiver cambio automático, os botões de acionamento e a grade de indicação “P R N D 3 2 1” ficarão para o lado direito. Outro detalhe são os acionadores de pisca e limpadores de pára-brisa, geralmente invertidos se comparado ao padrão ocidental. Já no cofre do motor geralmente fica alguns “buracos” no “corta fogo”. Ali é tampado com selante resistente a altas temperaturas, como cobertura de asfalto para telhados.
Na seqüencia: botão do cambio automático do lado direito, seguido dos acionadores de piscas e limpadores de pára-brisa e as partes tampadas com selante em destaque
- Como eles vem para cá?
- Carro no Japão, de 5 a 10 anos ou mais de uso, chega a ser mais barato que uma bicicleta, (bikes mais elaboradas, tipo competição) e como o poder aquisitivo é muito alto não faria sentido andar com um “carro velho”. No Japão existem duas opções para se desfazer de um carro usado: vender para um desmanche ou vender para “exportadores”, geralmente árabes que nunca perdem um bom negócio (bem “monkey business” mesmo hehe).
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Veículos sendo descarregados no porto de Iquique, no Chile
Uma vez negociados, os veículos, em muitas vezes carros de passeio e utilitários, são embarcados em um navio e saem dos portos japoneses em direção ao porto de Iquique, no litoral do Chile. Como lá é uma “zona franca”, como Manaus/AM, a entrada deles fica muito facilitada, ainda mais por ficar mais perto dos portos japoneses.
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- Qual a vantagem de comprar um “transformer”?
- Na Europa, onde os preços de carros também são muito em conta, até seria possível trazer um carro do Japão para rodar em solo europeu, mas dificilmente alguém conseguiria modificar o carro para o padrão ocidental, e mesmo se tivesse êxito na transformação o carro não teria a homologação para rodar normalmente por se tratar de uma “gambiarra” propriamente dita. As leis de lá são tão rigorosas que, mesmo se você trazer um carro se segunda mão da Alemanha, por exemplo, o carro não será homologado pelo simples fato de ser considerado “lixo” (!!!). Mas há exceções como Portugal, que ainda permite (ou permitia, não sei como é hoje) trazer carros usados com até 3 anos de uso para rodar em solo português, mas com sua revenda vetada.
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Fazendo a modificação em um carro japonês
- Não chega a ser algo muito vantajoso na Europa, mas na américa do Sul, mais precisamente Paraguay, Chile e Bolívia, é algo muito rentável! Se comparar estes transformados com outros veículos “locais” compensa aderir a um “transformer” devido a sua qualidade e preços mais acessíveis para carros de linha média-alta, mesmo sendo de segunda mão. Outro fato de serem os preferidos é que vem do Japão, e “se vem do Japão então é confiável”, já que os carros de lá em sua maioria são bem cuidados, além de serem levados a oficinas oficiais e utilizarem peças de reposição originais, que lá são bem baratos.
Todas as peças do interior são reaproveitadas, menos o sistema de direção que é trocado por um novo por questões de segurança
- A transformação:
- Transformar um carro japonês não é algo simples: tem que desmontar o painel, retirar o sistema de direção e é feita o reposicionamento dos cabos e tubos de ar. A parte mais trabalhosa é o painel: sua modificação é algo praticamente artesanal. É a parte mais trabalhosa da transformação, e uma vez bem executada fica difícil saber se o carro é um “transformer”. Todas as peças são reutilizadas, exceto o sistema de direção, que é utilizada uma peça nova por razões de segurança.
O painel é a parte mais trabalhosa de ser feita. É aqui que indica se um carro é convertido ou não, mas um trabalho bem feito acaba por disfarçar isso.
- O Negócio:
- Poucos países costumam fazer isso, mas no caso do Paraguay há certos fatores que facilitam a entrada dos “japas” no país, como a chegada deles via Porto de Iquique/Chile. Os japoneses costumam fazer boas negociações com veículos usados. Um exemplo: um Toyota Corolla G 1999 sai do Japão custando aproximadamente € 700,00, e chega ao Porto de Iquique valendo € 2.000,00 !
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Toyota Corolla G, versão japonesa.
- Um exemplo mais completo: um Toyota 4Runner ou uma Hilux Surf SSR, que são o mesmo modelo (Hilux SW4 no Brasil) sai do Japão custando uns € 5.000,00. Para levar este veículo do Chile até o Paraguay usando uma “cegonha” o frete é de € 350,00 (geralmente o frete é repartido com mais pessoas para compensar o mesmo, e assim a cegonha vem sempre cheia). chegando no Paraguay tem o custo da aduana, que geralmente é de 15% o valor declarado do carro, e mais € 350,00 da transformação para poder rodar legalmente. No fim das contas, os 4Runner saem por aproximadamente € 10.000, o que, arredondando os valores, o lucro operacional é de € 3.000,00 neste caso!
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Toyota Hillux, um dos mais procurados no Paraguay
Carros como os Toyota Corolla, Corolla Spacio, Premio Caldina e muitos outros podem ser modificados com valores entre € 5.500,00 a € 9.000,00 dependendo da “cara do cliente” (O.o*!). Mas isso é uma pratica que está desaparecendo, pois o preço de um carro “original” é em muitas vezes igual ou pouco mais caro que um modificado.
- Fonte: MotorPasion En Español
- Fotos: Federico Sabez / Motorpasion, Kiko Molinari Originals® e Divulgação
- Texto e edição: Kiko Molinari Originals®